Em junho de 2016 Pinto da Costa apresentou Nuno Espírito
Santo como treinador do FC Porto. Não sei se foi a escolha certa ou não –
normalmente só é escolha certa quando vencem títulos; se o treinador é limitado
tecnicamente ou não; o que sei é que Nuno conseguiu algo muito importante: unir
um grupo em torno de um objetivo e formar uma simbiose perfeita com os adeptos.
Há quanto tempo não se via adeptos e equipa unidos sem assobios estúpidos no
Dragão? É responsabilidade dele a reconstrução de uma defesa feita em cacos e
que tanta desconfiança tinha causado na época anterior, transformando-a em
defesa de betão. Do mesmo modo que também é responsabilidade de Nuno o facto do
Estádio do Dragão ter voltado a ser a fortaleza da equipa, que voltou a não
temer jogar em casa. Outro mérito que atribuo, sem muitas dúvidas, ao agora ex-treinador
portista é a “recuperação” de Brahimi. O argelino estava na porta de saída e,
num momento em que o FC Porto mais precisou dele, Nuno conseguiu que o jogador
ganhasse confiança e voltasse a jogar e a ser importante para a equipa.
No entanto nem tudo correu bem. Nuno não conseguiu que o
ataque fosse tão consistente quanto a defesa. Vezes sem conta – muitas mais do
que seria desejado, os avançados não conseguiram ser eficazes e, com isso,
deixaram o FC Porto numa situação complicada, porque sem golos não se ganham
jogos, perdem-se pontos importantes e consequentemente campeonatos. Nesse
aspeto, há responsabilidade do treinador, porque foi um ponto em que a equipa
não foi capaz de evoluir ao longo do campeonato e, consequentemente, um
problema que Nuno não foi capaz de resolver. E por isso, divide as culpas pela
perda de pontos com o plantel.
Algumas vezes Nuno errou nas suas opções, é certo, infelizmente
não conheço nenhum treinador que acerte sempre. As vezes não conseguia perceber
as suas opções, outras percebia e se tivesse a hipótese de decidir, eu própria
as tomaria. Por vezes optou por alternar entre sistemas de jogo, o que fazia
com que jogadores, como por exemplo Óliver, jogassem muitas vezes fora da sua
melhor posição. Mas a aposta mais consistente foi no 4x3x3, algo que
unanimemente muitos de nós consideramos ser a melhor opção. A entrada de Soares
no plantel foi uma lufada de ar fresco. No entanto, fazer coabitar André Silva
e Soares na mesma equipa nem sempre foi fácil e nem sempre correu bem. Por
isso, muitas vezes a opção passou por deixar André no Banco para que Corona
assumisse a ala. Certo ou errado, a verdade é que, provavelmente, muitos de
nós, confrontados com a missão de escalar um onze, faríamos a mesma escolha…
Ao longo do campeonato a equipa atravessou vários momentos:
bons, rasoáveis e maus. Dos momentos maus, ou menos bons, a equipa, bem ou mal,
conseguiu sair de forma positiva. Até que chegaram os jogos finais e, sem que
seja fácil perceber como ou porquê, a equipa “tropeçou” em si própria e não
conseguiu chegar à meta no primeiro lugar. Vamos, então, a factos que
originaram o tal “tropeção”. Ao longo de nove jogos, entre a recessão ao
Moreirense e a recessão ao Vitória de Setúbal, a equipa somou vitórias, recuperando
terreno para o primeiro lugar. No entanto a partir da recessão ao Vitória de
Setúbal, não se percebe como, mas parece que algo se quebrou na motivação da
equipa. Será que a equipa deslumbrou-se? Ou será que de
alguma forma teve medo de ser feliz? Mas se assim foi, cabia ao treinador
chamar a equipa à razão, fazendo com que esta recuperasse a determinação e a
crença. Era, sem dúvida, responsabilidade de Nuno garantir que a equipa não ia
falhar ou desistir na fase determinante da época. E isso, ele não conseguiu. A
equipa vacilou, fraquejou e falhou o tão desejado objetivo da conquista do
campeonato.
Ao longo da época gostava que Nuno tivesse sido um pouco
mais crítico e duro nas críticas à arbitragem quando as teve – e teve,
infelizmente, muitas vezes. Não queria que o treinador fosse a única voz do
clube – tal como aconteceu, por exemplo, com Vítor Pereira ou com Lopetegui –
mas gostava que Nuno não fosse tão contido e tão politicamente correto. É que
esta época houve momentos que faltou-nos sentir a revolta do treinador, faltou-nos
sentir que ele era a nossa voz, que representava a revolta que todos nós
sentíamos. Gostava que Nuno tivesse menos medo de falhar em certos momentos,
que tivesse arriscado mais quando nada tinha a perder e que podia ter muito a
ganhar. A sorte protege os audazes, diz o ditado e só vamos saber se é assim se
arriscarmos mais.
Pesando bem os pontos positivos e os negativos da prestação do treinador do FC
Porto, por mim Nuno ficava. Eu votava na continuidade de um projeto que podia
evoluir, com a possibilidade do treinador evoluir em simultâneo. Não sou
apologista das trocas constantes de treinador – infelizmente começo a ver no
meu clube a instabilidade nas equipas técnicas que via noutros clubes e que
sempre me fez muita confusão - fazendo com que seja difícil haver estabilidade
de uma época para a outra. Custa-me que no momento de fazer um balanço
sobressaiam os pontos negativos - sobretudo pelo facto do título ter, mais uma
vez, escapado – em detrimento dos pontos positivos que também existiram.
No entanto, a opção do clube, ou de Nuno, foi terminar o
vínculo e assim, só me resta lamentar este desfecho; desejar a Nuno Espírito
Santo boa sorte para o futuro; agradecer-lhe o que de bom fez pelo FC Porto
esta época; dizer-lhe que somos Porto!
E resta-nos esperar para ver quem será o senhor que se segue.
Certamente que nos próximos dias muitos nomes vão surgir como possíveis
treinadores. Aguardemos com a tranquilidade possível.
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