terça-feira, 23 de maio de 2017

Sobre O Treinador



Em junho de 2016 Pinto da Costa apresentou Nuno Espírito Santo como treinador do FC Porto. Não sei se foi a escolha certa ou não – normalmente só é escolha certa quando vencem títulos; se o treinador é limitado tecnicamente ou não; o que sei é que Nuno conseguiu algo muito importante: unir um grupo em torno de um objetivo e formar uma simbiose perfeita com os adeptos. Há quanto tempo não se via adeptos e equipa unidos sem assobios estúpidos no Dragão? É responsabilidade dele a reconstrução de uma defesa feita em cacos e que tanta desconfiança tinha causado na época anterior, transformando-a em defesa de betão. Do mesmo modo que também é responsabilidade de Nuno o facto do Estádio do Dragão ter voltado a ser a fortaleza da equipa, que voltou a não temer jogar em casa. Outro mérito que atribuo, sem muitas dúvidas, ao agora ex-treinador portista é a “recuperação” de Brahimi. O argelino estava na porta de saída e, num momento em que o FC Porto mais precisou dele, Nuno conseguiu que o jogador ganhasse confiança e voltasse a jogar e a ser importante para a equipa.

No entanto nem tudo correu bem. Nuno não conseguiu que o ataque fosse tão consistente quanto a defesa. Vezes sem conta – muitas mais do que seria desejado, os avançados não conseguiram ser eficazes e, com isso, deixaram o FC Porto numa situação complicada, porque sem golos não se ganham jogos, perdem-se pontos importantes e consequentemente campeonatos. Nesse aspeto, há responsabilidade do treinador, porque foi um ponto em que a equipa não foi capaz de evoluir ao longo do campeonato e, consequentemente, um problema que Nuno não foi capaz de resolver. E por isso, divide as culpas pela perda de pontos com o plantel.

Algumas vezes Nuno errou nas suas opções, é certo, infelizmente não conheço nenhum treinador que acerte sempre. As vezes não conseguia perceber as suas opções, outras percebia e se tivesse a hipótese de decidir, eu própria as tomaria. Por vezes optou por alternar entre sistemas de jogo, o que fazia com que jogadores, como por exemplo Óliver, jogassem muitas vezes fora da sua melhor posição. Mas a aposta mais consistente foi no 4x3x3, algo que unanimemente muitos de nós consideramos ser a melhor opção. A entrada de Soares no plantel foi uma lufada de ar fresco. No entanto, fazer coabitar André Silva e Soares na mesma equipa nem sempre foi fácil e nem sempre correu bem. Por isso, muitas vezes a opção passou por deixar André no Banco para que Corona assumisse a ala. Certo ou errado, a verdade é que, provavelmente, muitos de nós, confrontados com a missão de escalar um onze, faríamos a mesma escolha…

Ao longo do campeonato a equipa atravessou vários momentos: bons, rasoáveis e maus. Dos momentos maus, ou menos bons, a equipa, bem ou mal, conseguiu sair de forma positiva. Até que chegaram os jogos finais e, sem que seja fácil perceber como ou porquê, a equipa “tropeçou” em si própria e não conseguiu chegar à meta no primeiro lugar. Vamos, então, a factos que originaram o tal “tropeção”. Ao longo de nove jogos, entre a recessão ao Moreirense e a recessão ao Vitória de Setúbal, a equipa somou vitórias, recuperando terreno para o primeiro lugar. No entanto a partir da recessão ao Vitória de Setúbal, não se percebe como, mas parece que algo se quebrou na motivação da equipa. Será que a equipa deslumbrou-se? Ou será que de alguma forma teve medo de ser feliz? Mas se assim foi, cabia ao treinador chamar a equipa à razão, fazendo com que esta recuperasse a determinação e a crença. Era, sem dúvida, responsabilidade de Nuno garantir que a equipa não ia falhar ou desistir na fase determinante da época. E isso, ele não conseguiu. A equipa vacilou, fraquejou e falhou o tão desejado objetivo da conquista do campeonato.

Ao longo da época gostava que Nuno tivesse sido um pouco mais crítico e duro nas críticas à arbitragem quando as teve – e teve, infelizmente, muitas vezes. Não queria que o treinador fosse a única voz do clube – tal como aconteceu, por exemplo, com Vítor Pereira ou com Lopetegui – mas gostava que Nuno não fosse tão contido e tão politicamente correto. É que esta época houve momentos que faltou-nos sentir a revolta do treinador, faltou-nos sentir que ele era a nossa voz, que representava a revolta que todos nós sentíamos. Gostava que Nuno tivesse menos medo de falhar em certos momentos, que tivesse arriscado mais quando nada tinha a perder e que podia ter muito a ganhar. A sorte protege os audazes, diz o ditado e só vamos saber se é assim se arriscarmos mais.

Pesando bem os pontos positivos e os  negativos da prestação do treinador do FC Porto, por mim Nuno ficava. Eu votava na continuidade de um projeto que podia evoluir, com a possibilidade do treinador evoluir em simultâneo. Não sou apologista das trocas constantes de treinador – infelizmente começo a ver no meu clube a instabilidade nas equipas técnicas que via noutros clubes e que sempre me fez muita confusão - fazendo com que seja difícil haver estabilidade de uma época para a outra. Custa-me que no momento de fazer um balanço sobressaiam os pontos negativos - sobretudo pelo facto do título ter, mais uma vez, escapado – em detrimento dos pontos positivos que também existiram.

No entanto, a opção do clube, ou de Nuno, foi terminar o vínculo e assim, só me resta lamentar este desfecho; desejar a Nuno Espírito Santo boa sorte para o futuro; agradecer-lhe o que de bom fez pelo FC Porto esta época; dizer-lhe que somos Porto!

E resta-nos esperar para ver quem será o senhor que se segue. Certamente que nos próximos dias muitos nomes vão surgir como possíveis treinadores. Aguardemos com a tranquilidade possível.


 

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