Agora que já terminou a época, é hora de analisar os
acontecimentos em busca de respostas para o que aconteceu.
Mas antes de avançar, tenho de avisar que o post é longo…
O FC Porto terminou a época 2013-2014, apenas com a
supertaça no bolso, algo que não é habitual no reino do Dragão. E tal facto
provocou um turbilhão nos adeptos portistas.
Esta época cometeram-se muitos erros, erros repartidos pelo ex-treinador,
pelo plantel e pela direção. Assim sendo, vou procurar analisar os
acontecimentos, através de uma análise ao plantel, outra ao treinador e, ainda,
outra a analisar a troca de treinador.
O Plantel
Para começar, no final da época passada saíram João Moutinho
e James. O primeiro era, sem sombra de dúvidas, o maestro da equipa, o pêndulo
no meio campo. Com a saída de Moutinho sabia-se que, fosse quem fosse o
treinador, a tarefa de o substituir ia ser complicada. Mas julgo que nunca se
pensou que fosse tão complicada.
Em sentido inverso, para colmatar a falta de soluções
evidentes para o meio campo, foram contratados Herrera, Josué, Carlos Eduardo e
Quintero. Para a frente de ataque foram contratados Ghilas, Ricardo e Licá. Quanto
à defesa, foi contratado Reyes e Fucile foi “resgatado”.
Para além destas opções, havia ainda a possibilidade de
contar com o plantel da B.
Ou seja, o plantel portista que começou a época era composto
por:
Guarda-redes: Helton, Fabiano e Cadú.
Defesas: Danilo, Maicon, Otamendi, Mangala, Reyes, Alex
Sandro e Fucile.
Médios: Fernando, Defour, Herrera, Carlos Eduardo, Josué,
Lucho, Quintero e Izmailov.
Avançados: Varela, Ricardo, Kelvin, Licá, Jackson e Ghilas.
A partida, diria que o plantel tinha boa margem de manobra,
com jogadores jovens com muita margem de progressão, como são os casos de
Reyes, Herrera e Quintero, por exemplo. É verdade que, principalmente no que se
refere à defesa, verificava-se falta de alternativa, principalmente no que se
refere às laterais, com Danilo e Alex Sandro a serem os donos dos lugares, havendo
Fucile como alternativa tanto à direita como à esquerda, ou então as adaptações
de Maicon e Mangala, isto claro, no caso de haver extrema necessidade. No meio
campo a abundância de médios parecia colmatar uma lacuna que se verificava na
época anterior e fazia prever que a luta por um lugar ia ser renhida. O sector
mais avançado também apresentava limitadas opções, mas com uma alternativa
válida a Jackson, algo que não se verificava, também, na época anterior.
Não, não me venham dizer que este era um plantel sem
qualidade, porque parece-me que apesar das limitações, o plantel tem qualidade
e com muitos jogadores a terem margem de crescimento. Claro que seria ouro
sobre azul ter duas opções de qualidade para cada posição no campo, mas o FC
Porto tem dinheiro para tal coisa? Sejamos realistas, a ideia é comprar barato,
ou mais ou menos barato, valorizar e vender por um preço alto. Ora, quem saiu
valorizado esta época? Ninguém. Pior ainda, muitos dos que já cá estavam saíram
desvalorizados.
Como se pode verificar na constituição do plantel, Izmailov
fazia parte do mesmo, contudo, devido a um problema familiar, segundo
justificou o clube, ficou afastado da competição deixando, por isso, de ser
opção.
Em Janeiro o plantel sofreu mexidas relevantes, entrou
Quaresma e Abdoulaye foi repescado ao
Vitória de Guimarães. Em sentido inverso, saíram Lucho, Otamendi e Fucile. Com
a saída de Lucho o FC Porto não só perdeu uma opção a meio campo, mas sobretudo
perdeu voz de comando.
E parece-me que da constituição do plantel está tudo dito.
O Treinador
A escolha do treinador esteve envolta numa espécie de
mistério. Durante alguns dias muito se especulou, escreveu e disse sobre a
alternativa escolhida para substituir Vítor Pereira no comando da equipa
técnica portista. O escolhido foi Paulo Fonseca que havia feito uma boa época
no Paços de Ferreira, colocando a equipa no terceiro lugar e, consequentemente,
nas competições europeias.
Paulo Fonseca assinou contrato no dia 10 de Junho, e ao
assinar contrato com o FC Porto estava também a assumir todos os objetivos
estabelecidos para esta época, sendo o principal a conquista do
tetracampeonato.
Acontece que Paulo Fonseca mostrou, demasiadas vezes, não
ser o comandante que esta nau precisava. E tal refletiu-se não só na gestão do
plantel, mas também nas conferências de imprensa.
Tendo o plantel, anteriormente referido, à disposição, Paulo
Fonseca teve dificuldades em colocar os jogadores a jogar. Seja porque uns
estavam a jogar fora do lugar, seja porque decidiu alterar o sistema de jogo,
apostando num duplo pivô que nunca deu bom resultado.
Com as alterações a meio-campo, que demorou muito a
estabilizar – se é que alguma vez chegou a estabilizar – a defesa, que era uma
fortaleza, começou a “meter água por todos os lados”. Ou seja, aqueles
jogadores que já jogavam juntos a pelo menos duas épocas, começaram a cometer
erros infantis que se repetiram demasiadas vezes. O que resultou em muitos
golos sofridos e que se traduziu em resultados menos positivos.
No que se refere ao ataque, nem sempre foi eficaz, Jackson
nem sempre foi bem servido pelos companheiros, e Ghilas teve pouca oportunidade
para demonstrar o seu valor, visto que normalmente Paulo Fonseca apenas o
utilizava nos minutos finais dos jogos. Deveria estar à espera que Ghilas desse
tudo em poucos minutos, diria que é algo altamente motivador para um atleta. Ou
seja, má gestão de plantel.
A Troca de Treinador
Agora é fácil dizer que a direção demorou muito a fazer
alguma coisa e que, muito provavelmente, com essa demora perdeu-se, margem de
manobra na conquista do título. Era demasiado evidente que Paulo Fonseca não
tinha condições para continuar a frente da equipa técnica e pior que não ter
condições, não queria.
À 21ª jornada, após mais um resultado desastroso, ou seja,
um empate frente ao Vitória de Guimarães depois de estar a vencer, foi acertada
a rescisão com Paulo Fonseca. O desafio seguinte foi arranjar um treinador para
comandar a equipa durante o resto da época. O escolhido foi então Luís Castro,
que era treinador da equipa B.
Com Luís Castro foi visível algumas melhorias na equipa, no
entanto, com muitos jogos e pouco tempo para treinar, Luís Castro não conseguiu
eliminar todos os problemas visíveis na equipa. E a bem dizer, alguns deles
teriam de ter sido resolvidos na pré-época.
Agora sobra a questão: será que se Luís Castro tivesse
pegado na equipa mais cedo as coisas teriam sido iguais? Não sabemos, nunca
saberemos, mas podemos sempre imaginar que sim.
Em suma, e para terminar, para mim, a incompetência do
ex-treinador, a má gestão do plantel, a incapacidade da equipa para corrigir o
que não estava bem e a demora de reação por parte da direção, ou seja, erros
múltiplos, resultaram nesta época terrível.
Se por um lado queremos esquecer esta época, por outro convém
não esquecer tão depressa, apenas para que os erros não se repitam.
Já se sabe que Julen Lopetegui será o homem do leme na
próxima época e que terá, seguramente, muito trabalho pela frente.